existe vida além disso #29
não posso terminar um relacionamento comigo, então estou dando um tempo de mim mesmo. eu vou ficar bem.
Eu comecei a fazer acompanhamento psicólogico em 2015 e desde então, eu não parei mais. Passei por diversas abordagens, psicólogos diferentes (de um homem estranhamente alto a uma senhorinha que esquecia meu nome) e muitos processos de reinvenção e análise interior - que não foram fáceis.
A ideia de reinvenção pessoal foi boa por muito tempo, eu sentia que eu precisava virar minha vida de cabeça para baixo para eu sentir que eu estava evoluindo., Era como se eu estivesse enfrentando a inércia e a zona de conforto, algo que me fazia sentir confiante sempre que eu decidia me reinventar, seja mudando completamente meu guarda-roupa, modo de pensar ou meu próprio estilo de vida.
Apenas em 2024 eu decidi largar esse hábito que parecia cada vez mais preocupante. Se algo não estava bem, eu buscava a reinvenção. Se eu sentia que eu precisava me sentir vivo, eu recorria a isso mais uma vez. Não parecia ser saudável e comecei a perceber que isso parecia ser algo que eu fazia para fugir de alguma coisa.
Eu concluí no começo desse ano que estava na hora de ir mais fundo em mim mesmo e passei a escrever em meus diários com mais frequência que nunca, hábito que mantenho desde 2017, mas que passou a ser mais intenso nesse ano pela vontade de buscar uma versão de mim que me trouxesse conforto e equilíbrio, sem aquela necessidade constante de me reinventar.
Acredito que muitos que fazem acompanhamento psicológico há anos entendem que chega uma hora que a gente cansa um pouco de estar tanto tempo analisando tudo dentro e fora de nós. No meu caso, eu estou um pouco farto de me entender, eu só quero ser de uma vez e pronto. Dar um tempo do meu diário, talvez da terapia e relaxar um pouco dessa fadiga.
Percebi que eu só quero passar um tempo fora de mim e só viver o mundo lá fora, tocar numa planta, viajar um pouco. Sair da minha mente e não ficar preso dentro de mim mesmo. É claro que a literatura possui um papel muito terapêutico para mim nesse sentido.
Observei minha estante nessa semana e eu percebi a quantidade de livros que eu tenho que possuem histórias com personagens que eu não me identifico nem um pouco e que vivem realidades completamentes distantes da minha. Gosto de pensar que eu parei de fazer questão de buscar personagens com quem eu me identifico o tempo inteiro como eu fazia na adolescência. Eu me tirei um pouco do centro de tudo de forma inconsciente.
Sei que eu não fiz isso com o objetivo de fugir da realidade, talvez eu tenha feito isso por encontrar um equilíbrio quase espiritual conhecendo a história de outras pessoas. É até curioso eu falar sobre isso agora, já que na newsletter que enviei da última vez eu meio que celebrava minha semelhança com uma personagem de um livro, mas quão bom é também perceber que existem pessoas tão distantes de nós mesmos? e além disso, poder ver as possibilidades de interpretação de uma obra quando nós vemos como ela é, sem nos colocar como centro dela?
Obviamente, isso afetou bastante a minha escrita, já que grande parte das coisas que eu escrevo giram ao redor do que eu sinto e vejo ironicamente, esse texto está seguindo a mesma linha e isso explica muito bem minha crise de escrita nos últimos tempos porque eu não queria mais me colocar no centro das coisas e sim, falar mais sobre o externo, a vida lá fora e coisas que não tinham nada a ver comigo. o problema é que eu simplesmente não conseguia pensar em nada, o que me trouxe um alerta de que eu preciso viver mais experiências reais.
Eu reconheço todo o bem que a terapia fez para mim e vejo que é por causa de todo o processo terapêutico que eu passei nos últimos anos que me deu a coragem que preciso para querer viver mais o mundo lá fora e explorar o desconhecido, mas nem sempre ela é perfeitinha e feliz. Em alguns momentos, a gente cansa disso tudo e é algo que faz parte da trajetória. Basta não desistir.
Aos novos inscritos, muito obrigado por se inscreverem e espero que gostem do texto. Vou amar saber as impressões de vocês!
Aos antigos, obrigado por não desistirem de mim e serem pacientes com os meus sumiços. Adoro quando vocês conversam comigo sobre algum texto meu!
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