olá, amigos
desde o começo do ano, ando me esforçando para que algumas coisas boas durem mais tempo. fico pensando em formas em conseguir estender mais aquele momento com os meus amigos, de fazer com o que o meu sushi não acabe tão rápido e que eu enrole o máximo possível para zerar algum jogo incrível só para ele não acabar e eu nunca mais tocar nele. eu nunca imaginei que seria esse tipo de pessoa, já que por muito tempo eu sempre fui desapegado com as coisas.
comecei a pensar nisso depois de tomar a decisão de trocar a academia pela natação. depois de quase dois anos indo quase todo dia fazer exercícios e passar em média uma hora e meia em completo desconforto - minha academia não tinha ar condicionado, ventilador e nem instrutores interessados - eu comecei a ver que isso não estava mais dando certo, por mais que eu gostasse demais de musculação.
e era bom ir, eu achava divertido e por muito tempo fazia parte do meu propósito de vida de cuidar da mente, corpo e auto estima. quando peguei o jeito, ir para aquele lugar quente era o ponto alto do meu dia, até não ser mais.
aos poucos, aquele esforço foi perdendo o sentido. não valia mais a pena estar em um lugar daqueles, sem orientação ou suporte e tudo que eu fazia parecia chato demais. naturalmente, lembrei que o caminho que eu deveria seguir seria voltar a nadar depois de muitos anos por sentir que alguns objetivos eu só iria conseguir se migrasse para outro esporte.
depois de umas três aulas de natação, juro que sentiminha vida mudar. mesmo que eu nade com crianças barulhentas, elas são mais legais que os adultos da academia. mesmo que esteja calor, vou estar dentro da água. e mesmo que eu sinta meu coração sair pela boca depois de uns 200 metros, eu vou me sentir feliz.
não quero ser ansioso e me precipitar, mas fiquei reflexivo sobre como a academia passou a perder todo o sentido para mim, já que era parte da minha vida e me fazia tão bem. todo aquele significado bom sumiu e sei que isso pode representar que amadureci em algum aspecto e que minha mente se expandiu para uma outra possibilidade de cuidado físico e mental, mas só consigo pensar no medo que isso aconteça com a natação também.
nadar está sendo tão bom para mim, viver isso três vezes por semana me traz uma felicidade como nenhuma outra coisa. eu simplesmente não quero que esse sentimento termine, mas eu me senti uma vez do mesmo jeito pela musculação. e eu lembro como uma vez estudar francês parecia ser a coisa certa para mim e que ia transformar minha vida, mas depois de um semestre eu percebi que tudo não passou de uma ilusão por que eu não gostei nem um pouco do idioma.
e isso está em tudo, aparentemente. me assusta pensar que eu tinha amizades tão fortes e significativas anos atrás e hoje somos apenas mutuals no twitter. o amor e o carinho ainda existe, mas e aquela conexão que existia na amizade? não volta mais?
eu não sei se fui claro, mas me perco entre aproveitar o momento e o medo de que tudo que estou vivendo naquela hora vai acabar. não entendo que um dia as coisas boas que gosto de fazer hoje podem não fazer mais parte da minha vida no futuro. mas ao mesmo tempo, deus me livre ficar no mesmo lugar para sempre sendo a mesma pessoa. mesmo que seja difícil mudar, é necessário eu querendo ou não.
queria compartilhar a indicação de um conto da clarice lispector que eu li uns anos atrás que conversa diretamente com o que eu sinto hoje. acho o conto “felicidade clandestina” lindíssimo justamente por ele representar algo que muitas vezes parece ser só meu, mas felizmente a literatura nos mostra que todos os sentimentos são universais.
nesse conto, a narradora tenta pegar um livro emprestado de uma colega de sala, mas mesmo indo todo dia indo na casa da garota, ela não consegue pegar o livro emprestado. e quando ela finalmente consegue o livro para si, algo nela muda. o trecho a seguir é emocionante:
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
O conto inteiro está disponível na internet e ele é muito bonito e tem apenas duas páginas, mas mesmo assim é profundo e cheio de nuances. Amo demais.
indicações aleatórias
assisti Past Lives semana passada e achei esse filme muito bonito e sensível. eu só acho que ele tinha algo a mais para dizer mas não disse então estou com umas opiniões um pouco vagas em relação ao filme;
escutei o álbum da Olivia Rodrigo e achei ele interessante. as baladas são um tédio mas as músicas mais agitadas me conquistaram. orgulho da xará;
estou na metade da segunda temporada de The Bear e a série continua muito boa, o problema é que acho que pesam um pouco no caos e aí parei num episódio super estressante então estou esperando ter mais paciência para assistir. Ayo Edebiri dona da série e ponto final;
Estou VICIADO nessa música da Beyoncé e também nessa aqui da Lana;
Não consigo parar de ler Os Buddenbrook, do Thomas Mann. O bom é que ele tem 700 páginas, então não preciso enrolar tanto para fazer com que o prazer de ler essa obra prima dure mais tempo. (ha-ha-ha)
E por hoje é só. Muito obrigado a todo mundo que assina, lê e comenta comigo as coisas que escrevo aqui, significa muito!