sou a selin #28
considerações sobre a idiota da elif batuman + coisas boas que li e assisti nos últimos tempos
É muito comum eu escrever um longo rascunho de algum texto e, no momento que eu termino de escrever e paro para ler, apago tudo e finjo que nada aconteceu. Se as palavras não ficam pessoais demais, eu sinto que elas são um lero lero sem fim de impressões que não parecem fazer muito sentido sobre os livros que eu ando lendo, por exemplo.
Sempre tento trazer algo que pareça ser interessante o suficiente e busco escrever apenas quando tenho algo a dizer, mas acredito que eu devo ser a pior pessoa para julgar se o que eu escrevo é interessante ou não, já que costumo pensar com frequência “ah, apaga isso aí, vamos dormir”.
O esquisito disso tudo é quando eu paro para pensar nos meus interesses, vejo que eu amo livros que falam sobre o nada, a rotina, personagens que só estão vivendo a vida normalmente e experimentando seus dramas do jeito lento da vida.
Lembro perfeitamente de quando li A Idiota, da Elif Batuman, e me vi completamente envolvido pelo livro, que é basicamente uma jovem narrando seu primeiro ano em Harvard, suas novas amizades, amores e perspectivas sobre ser uma jovem no meio dos anos 90.
Tudo é narrado com tanta alma e delicadeza nos detalhes que eu me senti ao lado dela o tempo inteiro, como se a protagonista fosse minha amiga. Foi ótimo acompanhar a vida dela por mais de quinhentas páginas e sinto muita falta de ler esse livro, porque eu acho que ele retratou bem essa fase de descobertas sem pressa e dramas forçados de séries adolescentes da Netflix. Eu consegui me ver em A Idiota o tempo inteiro justamente pela vida da protagonista ser tão comum e simples e ela ter as mesmas angústias e questionamentos que eu tive na época da faculdade.
Quando eu paro para olhar a internet, eu gosto de ver a vida acontecendo para as pessoas que eu gosto e é algo que me traz uma satisfação muito grande. Eu amo ver que alguém começou a correr e que isso mudou completamente o seu estilo de vida. Eu amo ver que alguém está viajando e está experimentando comidas que parecem boas demais e me deixam louco de vontade de provar. E também amo quando algum amigo posta um story sorrindo em algum lugar. É óbvio que a vida fora das redes sociais é muito mais difícil e dura, mas não é ótimo ser lembrado de que, apesar de tudo, as pessoas estão compartilhando algo legal em suas vidas?
Quando eu li A Idiota, eu tinha acabado de me formar na faculdade. Eu sabia que eu não teria mais aquela rotina de estar em constante contato com meus amigos e pessoas novas o tempo inteiro, de andar pelo campus e entrar nas bibliotecas e em eventos acadêmicos para conhecer diversas perspectivas. Elif soube reproduzir tão bem esse sentimento bom da faculdade: aprender, se decepcionar, chorar e conhecer um mundo muito mais amplo que o da escola. Eu amo como Selin, a protagonista, é tão apaixonada por isso tudo e pela sensibilidade que existe nela, nas pessoas e no que está ao seu redor, por mais comum que seja.
Sinto que estamos vivendo em uma era bizarra viciada em performance e eu não vou dizer que estou fora dessa loucura. Eu fiquei por um tempo um pouco viciado em ter números e sempre me superar no que eu publicava no Tiktok para tentar ter alguma relevância, e só depois de ter me frustrado e cansado de correr atrás disso eu vi o quanto eu estava me perdendo nesse caminho (e esquecido o motivo de eu ter começado a postar).
Eu acho que eu estou tentando aceitar que eu nunca vou ter nada “interessante” ou “grande” a dizer o tempo inteiro e acho que isso é o que mais parece mais saudável para mim, já que essa vida de produção de conteúdo exige um ritmo completamente diferente da vida real.
Leiam A Idiota e me agradeçam depois.
O que estou lendo
Maurice (E.M. Forster, 1970)
Maurice é considerado um dos primeiros livros britânicos a retratar um romance entre dois homens com naturalidade e eu estou apaixonado pela leitura. Eu gosto tanto dos personagens desse livro e eu indico a todos que buscam ler um romance bem escrito e cativante, por mais que coisas bem tristes e injustas aconteçam lá para a metade.
Algo que eu achei bem legal no livro é que alguns comportamentos dos personagens lembram muito os que eu vejo hoje e é impressionante ver isso, o amor é o mesmo em qualquer época. Sim, estou enrolando para terminar porque não quero me despedir de um bom drama gay.
O que eu assisti de bom
Victim (1961)
E falando em bons dramas gays, eu não poderia deixar de citar Victim, um filme britânico também conhecido por retratar os gays de uma forma respeitosa e sem estereótipos. Esse filme me deixou tenso do começo ao fim e o final é super prazeroso.
Aqui, Dirk Bogarde interpreta um advogado que pode ter tudo a perder por causa de uma chantagem que pode expor para todo mundo que ele é homossexual. Em uma época que manter um relacionamento com alguém do mesmo sexo era um crime, ele decide bater de frente contra o chantagista e fazer de tudo para sair por cima da situação.
Eu amei esse filme e fiquei de coração partido em saber que esse esquema de chantagem acontecia demais no Reino Unido na época, mas feliz que esse filme foi crucial para fazer com que a homossexualidade deixasse de ser ilegal.
Do Dirk Bogarde, indico também Morte em Veneza do Luchino Visconti. Adaptação do meu querido Thomas Mann, Dirk também interpreta um homossexual aqui e apesar da atuação propositalmente exagerada e esquisita, o filme traz um enredo maravilhoso e bem controverso. Existe algo melhor?
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amei as recomendaçoes! achei a idiota meio paulada na amazon mas vou procurar nas locadoras populares e vejo se encontrooo. saudades!
Acredito que somos todos Selin. Esse livro me marcou muito! Adorei o texto e me senti representado! Você precisa ler Ou-ou