virando a noite #15
night time, my time aqui não! na newsletter de hoje, falo de dois filmes caóticos que tiraram meu sono de tão bons que são.
Olá, newsletters.
Minha hora favorita do dia para assistir a um filme é à noite. Silêncio, clima da minha cidade pegando leve no calor (há exceções, infelizmente) e a certeza que nada vai atrapalhar o momento. Tenho o costume de fazer isso desde o início da minha adolescência e já perdi a conta de quantos filmes assisti nesse ritual, que me acalma e me permite curtir minha própria companhia, longe do celular.
Como eu acredito que para a gente aproveitar um filme de verdade, precisamos nos entregar a ele e entender o que ele realmente quer dizer, de vez em quando eu vejo uns filmes que me deixam maluco, com o coração quase saindo pela boca e me sinto como se eu estivesse dentro do filme vivendo tudo que está acontecendo. Eu não vejo essa experiência de uma forma negativa, eu fico muito feliz quando isso acontece pois são poucos os filmes que podem causar esse impacto nas nossas emoções.
Eu consigo lembrar de dois filmes que conseguiram me deixar desse jeito que, curiosamente, possuem várias semelhanças entre eles: são histórias que acompanham um homem vivendo sozinho um terror durante a madrugada, com muito neon e gente estranha no caminho.
Começando por After Hours (Martin Scorsese, 1985), que me deixou muito impressionado. Eu amo quando o Scorsese inventa um filme diferente e sai da caixinha e faz um filme nada a ver com os de gangues, crimes ou homens problemáticos que ele costuma fazer e After Hours passa perto disso, mas de um jeito inventivo, caótico e engraçado.
No filme, o protagonista é um operador de computadores frustrado com a sua profissão que decide fazer algo diferente de noite. Ao visitar um café e ver se acontece alguma coisa, ele conhece uma mulher e a partir daí a noite dele vira de cabeça pra baixo e tudo dá errado sem parar. Sou péssimo com sinopses mas eu realmente acredito que é muito melhor você se surpreender e ir sem saber de muita coisa.
Lembro que quando o filme acabou, eu respirei fundo e percebi que eu estava super agitado e com o sangue fervendo. Pareceu que ia ser só um filme de suspense sem grandes emoções mas acabou que eu fiquei bem estressado e com muita pena do protagonista, que não mereceu passar por tamanha desgraceira.
Miracle Mile (Steve de Jarnatt, 1988), um filme bem parecido com After Hours, causou o mesmo impacto em mim. Seguindo quase o mesmo plot, o protagonista perde o horário para se encontrar com uma mulher em um restaurante e acaba recebendo uma ligação bizarra.
Na ligação, um homem diz que a cidade vai sofrer um ataque nuclear em trinta minutos e a partir daí, o filme se desenrola mantendo o suspense se era um trote ou não.
Eu fiquei o tempo inteiro durante o filme me perguntando se era só um delírio de um cara vivendo aquele contexto da Guerra Fria que todo mundo tinha medo de uma guerra nuclear ou se a tragédia realmente ia acontecer, isso tudo enquanto o caos era instaurado na vida do protagonista, que se transforma como personagem no decorrer do filme.
Um dos pontos altos de Miracle Mile é a trilha sonora bem anos 80, com muito sintetizador e uma batida que faz a gente entrar no filme e ficar nervoso por todo mundo que está ali. Eu preciso que alguém assista para comentar comigo sobre o quanto as músicas são realmente boas.
Para fechar, eu realmente estou me surpreendendo com os filmes dos anos 80 que eu ando descobrindo. Assisti um chamado Dublê de Corpo (Brian de Palma, 1984) nesse ano e achei incrível também, é um suspense um pouco datado mas que possui um charme que só a década de 80 pode oferecer.